ENIVREZ-VOUS
Il faut être toujours ivre. Tout est là: c’est l’unique question. Pour ne pas sentir l’horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.
Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.
Et si quelquefois, sur les marches d’un palais, sur l’herbe verte d’un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous reveillez, l’ivresse dejà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l’étoile, à l’oiseau, à l’horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure est; et le vent, la vague, l’étoile,l’oiseau, l’horloge, vous répondront: “Il est l’heure de s’enivrer! Pour n’être pas les esclaves matyrisés du Temps, enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise.”
NOTAS: Este poema em prosa, foi publicado pela primeira vez no Figaro de 07 de fevereiro de 1864, é o trigèsimo-terceiro da edição póstuma dos Pequenos Poemas em Prosa (1869).
Charles-Pierre Baudelaire nasceu em 9 de abril de 1821, na rue Hautefeuille, número 13, Paris, filho de Joseph-François Baudelaire e Caroline Defayis. Em 07 de abril de 1855, aparece pela primeira vez o título as Flores do mal em uma carta endereçada a Victor de Mars, e em 01 de junho deste mesmo ano foram publicados 18 poemas sob esse título na Revue des Deux Mondes. Em 1856, Baudelaire vende Les Fleurs du mal a Poulet-Malassis, que o torna disponível no ano seguinte. Em agosto de 1862, foram publicados no La Presse, catorze Pequenos poemas em prosa, e seis outros em setembro. Em 1864, fevereiro, foram publicados no jornal Le Figaro, Quatre petits poèmes en prose, um dos quais Enivrez-vous, sob o título coletivo: Le Spleen de Paris. Em 1866, Baudelaire adoeceu gravemente, vindo a falecer em 31 de agosto, tendo sido enterrado no dia 02 de setembro no Cemitério Montparnasse.
A tradução abaixo é de minha autoria e não acompanha a maioria das traduções disponíveis. Quase sempre, Enivrez-vous é traduzido utilizando-se a forma erudita: Embriagai-vos. Optei por Embriaguem-se, para tornar o título mais próximo de nossa linguagem cotidiana e soar melhor aos meus ouvidos. “Mas o que é isso? O que pensa este psiquiátra?”, bradarão especialistas e professores de literatura! Peço desculpas, estou embriagado: mais de poesia que de vinho; mais de vinho que de virtude!
EMBRIAGUEM-SE
É preciso estar sempre embriagado. Tudo está aí: é a única questão. Para não sentir o horrível peso do tempo que abate seus ombros e lhe curva para a terra, é preciso embriagar-se sem trégua. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à sua escolha. Mas embriaguem-se.
E, se alguma vez, nas escadarias de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna de seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que foge, a tudo que geme, a tudo que se move, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, lhe responderão: “É hora de se embriagar! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à sua escolha.”
Oi Nery,
Parabéns pela iniciativa.
Você nos embriaga com sua sabedoria.
Beijos,
AldaRoberta
Recife-PE
Assisti sua entrevista ontem na tv, e fiquei em extase de ver um PSIQUIATRA de um humanismo contundente, ao discutir o ser humano de uma perpectiva além das respostas robotizadas de muitas abordagens médicas, um acalanto no Brasil atual no contexto da crimanalização dos espaços, dos comportamentos como “solução” dos problemas sociais.